segunda-feira, 1 de outubro de 2007

AMOR E JUSTIÇA: O problema do pecado

Apesar de Jesus ter dito que seu ensino se resumia no amor (a Deus e ao próximo) a pregação das igrejas tem ressaltado mais o pecado. O protestantismo brasileiro, influenciado pela teologia dos missionários americanos, oriunda da mesma raiz que algumas décadas mais tarde geraria o fundamentalismo, desde sua hinologia até seu ensino na escola dominical, só compreende o amor de Deus na dimensão do pecado. Sem pecado não há amor de Deus. Esse amor se manifesta na redenção dos pecados através da encarnação e morte de Cristo – manifestação do amor divino pelo ser humano.
Mas, ao mesmo tempo que a cristandade afirma o amor de Deus, afirma também sua justiça. Essa justiça se expressa na condenação dos que estiverem em pecado (é claro que o pecador é sempre aquele que não está de acordo com o ensino oficial, mas essa é uma outra história).

Como podemos conciliar amor e justiça em um único Deus? Quando falamos de condenação de pecados negamos o amor incondicional de Deus. Quando falamos que para o pecado haverá condenação imaginamos um Deus que se esqueceu do amor e não tem escrúpulos em castigar.

Gianni Vattimo nos oferece uma compreensão (que não é nova, mas que se renova) para pecado. Para ele, o único sentido de pecado é o da exclamação “que pecado!” (“que pena!”). Por exemplo: Há dois anos atrás por ocasião do nascimento da minha filha minha mãe foi nos visitar. Num determinado dia resolveu fazer uma de minhas sobremesas favoritas, mas, no momento de pôr na geladeira deixou cair perdendo todo o prato. Minhas palavras e sentimento naquele momento: “Que pecado!”. É claro que esse exemplo não alcança dimensões éticas mas clareia o que quero dizer.
Quais os limites nas nossas relações se a idéia de pecado se resume a um sentimento de perda? O limite é o amor (nesse ponto há uma identificação com o ensino de Jesus, mencionado acima). Sendo guiados por esse parâmetro não há necessidade de uma pregação sobre o pecado.

Deus passa, na dimensão do amor, a não ser compreendido mais como juiz ou algoz, mas como pai, mãe ou amigo. Até porque, como nos lembra Vattimo, perdão apenas para quem está arrependido não traz equilíbrio a situações, por exemplo, de violência extrema. O Deus que aterroriza criancinhas quando cantamos: “Cuidado boquinha no que fala (pezinho no que pisa, mãozinha no que pega, olhinho no que vê), o Salvador do céu está olhando pra você!”, deve ceder lugar ao Deus que conhece nossas limitações e que nos ama acima de tudo, até mesmo da justiça.

2 comentários:

Unknown disse...

Grande Cleber,
tomara que um dia aqueles que falam para "grande massa" entendam o amor, o pecado e justiça da mesma maneira que você entende. Aprendi bastante com seu texto...obrigado
Lúcio

Unknown disse...

Confesso que só tive tempo de ler seu primeiro texo....mas lerei os outros depois.
grande abraço