quarta-feira, 7 de abril de 2010

QUALIDADES E DEFEITOS

Todas as pessoas são dotadas de qualidades e defeitos. É impossível encontrarmos por aí pessoas que não errem em nada, como também é impossível encontrarmos pessoas que não acertam em nada. Todos fazemos coisas boas e ruins. Infelizmente na maioria das vezes atentamos mais para os defeitos que para os acertos. Isso é uma dificuldade que atrapalha nosso relacionamento com as pessoas e destrói a comunhão da igreja.

Como podemos agir, então? Devemos reconhecer as qualidades das pessoas. Observar o que cada pessoa tem de bom. Ninguém pode ser bom em tudo, mas em alguma medida todos são bons em alguma coisa. Se você reconhece um ponto positivo na vida do outro não tenha medo de elogiar. O elogio é o reconhecimento dos méritos das pessoas.

Mas e quanto aos defeitos? Não cabe a nós julgar. Jesus diante daquela mulher apanhada em adultério não julgou ou condenou, antes afirmou que todos têm seus defeitos. Podemos ajudar nossos irmãos em suas dificuldades, não apontando o dedo ou nos colocando como melhores que elas, apoiando e incentivando a mudança, reconhecendo que nós também temos os nossos defeitos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

SOU RELIGIOSO

Alguns afirmam que todas as pessoas, em alguma medida, são. Você pode até dizer: “não é grande surpresa que você seja religioso, já até postou neste mesmo blog um texto intitulado ‘Sou pastor’”. Verdade! Mas afirmar que sou religioso é descobrir que faço coisas “sem sentido”. Qual o sentido da religião? Tudo bem... a religião dá sentido. Então o sentido é o sentido? E quando se afirma que o sentido é o sentido, de alguma forma não se perde o sentido?
Às vezes observo minha filha brincado de boneca (aquelas Barbies magrelas). Ela sabe que a boneca não é nada mais que boneca, que no prato que a Barbie come não há comida alguma, que quando dorme não dorme, mas ainda assim ela continua brincando – e brinca sempre que é possível. Acho que sou religioso desse jeito, como quem brinca de boneca. Deve ter sido pensando em coisa parecida que Nietzsche disse que devemos continuar sonhando sabendo que estamos sonhando.
Acho que só me é possível ser religioso assim. Mesmo pensando que quem brinca leva à sério a brincadeira, ainda que saiba que está brincando.
Mas me pergunto agora se esse levar à sério a religião não é a causa de tantas “brigas de criança”. Talvez, então, não devamos ponderam sobre a seriedade da religião.
Alguém me disse que não poderia levar Vattimo à sério, pois, como pode alguém ler Heidegger e continuar se afirmando cristão? Acho o divertido da religião está aí: no poder ser religioso sem precisar de fundamentos racionais que justifiquem isso. Não é assim que as crianças brincam?
Bem, sei que sou religioso!
E sei que minha filha brinca de boneca.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

CEIA, MEMÓRIA

Quando nos reunimos para celebrar a ceia do Senhor, fazemos memória. Memória não é só lembrança, é fazer com que algo do passado se torne presente. É fazer com que a morte de Jesus, seu sangue e seu corpo continuem presentes na vida da igreja. A ceia é um meio da igreja reviver algo importante de seu passado: a cruz e a ressurreição.
Mas por que é importante que a igreja reviva esses acontecimento? Quando comemos o pão e tomamos do cálice não apenas recontamos uma história, mas fazemos com que ela também seja nossa história. Na ceia quando participamos do pão e do cálice descobrimos que Jesus não é apenas uma figura do passado, mas alguém presente em nossas vidas e com que estamos diariamente envolvidos.
No momento da ceia, trazendo Jesus à memória, percebemos que sua morte injusta continua acontecendo na morte de milhares de pessoas pelo mundo à fora. Aqueles que são crucificados pela fome, pela violência, pelo descaso dos governos e até da igreja.
Mas trazer Jesus à memória é também perceber sua ressurreição como nova esperança para o pobre e o excluído. É perceber que a vitória sobre a morte nos mostra que nada está perdido, que nossa missão junto aos que, como Jesus, carregam todos os dias suas cruzes, não é sem sentido.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

SOU BAIANO

Isso eu já sabia há algum tempo... mas nem tanto. Que nasci no Nordeste, na Bahia, no sudoeste baiano, em Itapetinga... isso eu sabia, mas não tinha consciência de quanto isso me imprime identidade. Como o boi que é marcado à ferro e fogo e leva a marca do dono até o fim (no caso dele, o matadouro).
Só percebi efetivamente minha baianidade quando fui estudar teologia em Recife. Sinto que quanto mais me distancio da Bahia mais me aproximo dela. Parece que nossa identidade é fortalecida pelo contraste: quanto mais me distancio daquilo que me caracteriza mais sou caracterizado. Possivelmente porque quando não estou na Bahia e descubro o diferente descubro que diferente, ali, sou eu, e me percebo dentro desses traços que levo. Quando estou na bahia sou tão baiano quanto os outros baianos, no entanto, quando estou em outros lugares sou o baiano (será que é por isso que no Seminário me chamavam de “baiano”?).
Descobrindo que sou baiano descubro também que as coisas que para mim não existiam passam a existir, e existem como coisas importantes. Por exemplo, eu não sabia que tinha um sotaque, hoje não só o percebo mas parcebo que ele é baiano que é musical e me evoca vários sentimentos. Hoje me dou conta de que minha comida pode ser baiana ou não. A comida que mainha fazia era só a-comida-de-mainha.
Sou baiano. Se fosse mineiro, paraense, gaúcho, simplesmente o seria. Só não levantaria as orelhas como cachorro ao ouvir um berimbau, nem balançaria a cabeça como calango ao ouvir alguém dizer: “Glauber Rocha, baiano de Vitória da Conquista...”.

domingo, 16 de novembro de 2008

SOU PASTOR

É, é isso mesmo: sou pastor. E o que há de mais nisso? Todos os que me conhecem já sabem disso. Para mim é meio que uma novidade. Não faz muito tempo que sou pastor, mas a novidade para mim não está nisso. Desde que fui ao seminário em fevereiro de 2000 ser pastor tornou-se não somente meu desejo mas também meu grande alvo de crítica, por ser a representação máxima de algumas coisas que não sou muito “chegado” no protestantismo, a saber: a institucionalização da igreja, a transformação do evangelho simples que Jesus ensinou em papo de “executivos” e “administradores”, o distanciamento dos problemas sociais, da cultura e da teologia, etc.
Minha constatação de que sou pastor não se deu por eu ter deixado de pensar essas coisas que acabei de citar, mas na descoberta de que ser pastor é muito mais que isso e está associado a coisas muito mais belas e dignas que isso. Descobri que ser pastor, entre outras coisas, é essencialmente servir às pessoas e ajuda-las a passarem por experiências transformadoras, sejam experiências místicas, experiências de comunhão, experiências comunitárias, experiências de resistência, experiências estéticas (Opa! Também isso? Ainda não sei)...
Servir às pessoas e ajuda-las nessas experiências é algo que hoje estou descobrindo e isso para mim é um tipo de conversão. Sou pastor há quatro anos e meio. Pouco tempo. Estou pastoreando efetivamente minha segunda igreja, mas só agora estou começando a descobrir isso (constatação nefasta). O que tem me feito chegar a tal conclusão? Bem imagino que sejam minhas experiências com Deus através da minha comunidade de fé e associadas à uma nova maneira de olhar para as coisas na qual estou me esforçando em exercitar. Em outras palavras posso dizer que Deus está me ensinando a ser pastor (em outros momentos jamais escreveria algo assim, quem me conhece sabe); minha igreja está me ensinando a ser pastor, me dando exemplo de simplicidade, abertura para novas experiências, fé, amor e companheirismo; e também posso dizer que Gianni Vattimo está me ensinando a ser pastor (agora exagerei?), seu “pensamento fraco” (pensiero debole) tem servido de chave-de-leitura para minhas relações com a igreja e o ser pastor.
Talvez pareça um tanto confuso esse texto, é que na minha cabeça essas coisas também não estão tão claras. Sei que os meu poucos leitores são pessoas compreensivas e compreenderão isso não como uma reflexão elaborada, mas como um deixar-cair o sinto agora, como um garçom que tropeça e espalha pelo chão aquilo que carregava na bandeja.

sábado, 15 de novembro de 2008

SOBRE PALAVRAS E GENIPAPOS

Cato palavras como jenipapos no chão
Sem procurar as que soam melhor.
Descobri que as melhores nem sempre
São as que vêm por esforço
Mas as que são catadas a esmo.
Que tem haver palavras com jenipapos?
Talvez nada,
Ou talvez o gosto.
Gosto de jenipapos pelo seu sabor ácido,
Gosto de palavras ácidas.
Quando as palavras são catadas, sem esforço,
Sem apelação,
Têm sabor ácido, como de jenipapos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Auto-conhecimento"?

Precisei certa vez me apresentar e como a maioria das pessoas senti um pouco de dificuldade. Acabei escrevendo:

Falar do espelho complica.
Já disse Jesus matreiro,
"Se falo de mim mesmo
O que falo não é verdadeiro".

Mas nos últimos dias estou tentado fazer um exercício de pensar os rumos que minha vida vem tomando. Não sei se posso chamar isso auto conhecimento (não sei se é algo possivel, ou importante). Acho que nas próximas semanas vou escrever alguma coisa sobre isso (de acordo com a disponibilidade de tempo - estou escrevendo uma dissertação).

Então é isso...

sábado, 22 de março de 2008

FLUXOS MIGRATÓRIOS: Um desafio à igreja

Quero neste breve texto apontar os desafios dos fluxos migratórios (internos) à prática da igreja, dando ênfase às migrações de nordestinos às região metropolitanas do Sudeste e Centroeste. Antecipo que não sou especialista em demografia, nem em história das migrações internas do Brasil, apenas quero compartilhar algumas reflexões sobre esse tema que me inquieta.
Os fluxos migratórios na atualidade constituem um grande desafio à prática da igreja principalmente pelos grandes impactos sociais que provoca. No Brasil (migração interna), por exemplo, ocasionou um grande êxodo rural e a superpovoamento das grandes cidades do Centroeste e Sudeste, sobretudo Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os fluxos migratórios podem ter início por vários motivos: conflitos bélicos (caso do Afeganistão), fome (caso da Etiópia), insatisfação com a conjuntura política (caso de Cuba), melhoria das condições de vida (caso de Porto Rico), dentre outros. No Brasil os principais movimentos migratórios aconteceram a partir da exploração da Amazônia, quando milhares de nordestinos, procedentes, principalmente, do Ceará, foram levados aos estados do norte para trabalhar na extração de borracha e posteriormente na construção da Rodovia Trans-amazônica. A construção de Brasília também levou milhares de nordestinos a deixarem sua terra e partirem para o trabalho de edificação da nova capital. Mas a maior das migrações se deu já desde a primeira década do século passado com a partida de milhares de nordestinos ao Sudeste, partida essa motivada pelo crescimento da produção agrícola e pelo processo de industrialização. Rosana Baeninger[i], diz que

Na vertente da migração rural-urbana, Singer contextualizou esses movimentos migratórios no bojo do processo de industrialização em curso, onde os deslocamentos populacionais - com origem no rural e destino urbano representavam a força de trabalho necessária à etapa de acumulação capitalista. As áreas rurais estagnadas ou em processo de transformação contribuíam para "fatores de estagnação" ou "fatores de mudanças" impulsionadores de fluxos migratórios nos locais de origem, onde as "causas" e os "motivos" da migração eram resultantes das transformações econômicas globais da sociedade. Os excedentes populacionais do rural constituíam transferências populacionais para as cidades, com a incorporação desses contingentes no mercado de trabalho industrial em expansão.

Gonçalves[ii] ainda aponta outros fatores motivadores das migrações do Nordeste para o Sudeste:

As causas desse êxodo, antigo e sempre novo, são diversificadas e complexas. A opinião pública e a imprensa costumam falar da seca em primeiro lugar. Mas o fato é que as estiagens prolongadas escondem motivações mais profundas e invisíveis. Entre estas, a concentração da terra, o coronelismo viciado, a corrupção, o patriarcalismo e a falta de infra-estrutura são algumas das principais.
A seca, a bem dizer, marca a hora da saída. Constitui um motivo imediato e aparente. Mas há causas remotas, históricas, estruturais, que forçam a saída do nordeste em distintas direções, particularmente para o centro-sul do país.
As conseqüências e as dificuldades também são muitas. Além dos problemas pessoais, familiares, sociais e econômicos, ultimamente têm enfrentado a discriminação, o preconceito e até mesmo a perseguição aberta.

A partir da década de 80 a configuração dessas migrações se modificou. Há agora também uma situação de retorno. Muitos nordestinos estão voltando à sua terra, talvez motivados pelas novas políticas governamentais de incentivo ao desenvolvimento regional (ainda que bastante limitadas e, por vezes, assistencialistas), pelo desencanto diante da miséria e exclusão a que são submetidos nas metrópoles do centro-sul e pelo desejo de identidade e pertença.
Os nordestinos estão concentrados principalmente nos bairros periféricos e favelas, realizam na maioria das vezes trabalhos braçais ou informais, têm menos acesso à educação superior, dentre outros problemas associados à exclusão. Além disso, o preconceito infundido na cultura oprime e rechaça o nordestino de sua dignidade. Uma questão que muitas vezes passa despercebida é a perda de identidade e pertença entre os retirantes, principalmente os vindo de cidades do interior. O choque cultural e a mudança de valores provoca uma crise que na maioria das vezes não é bem resolvida. As igrejas pentecostais das periferias têm crescido numericamente por tornar-se refúgio, espaço de identidade e pertença para nordestinos distantes de sua terra.
O grande desafio que os fluxos migratórios constituem à prática da igreja deve surgir do sentimento de responsabilidade que deve existir na igreja em relação ao mundo. A situação de exclusão a que é submetida uma grande massa de nordestinos é um clamor que ressoa nos ouvidos da igreja. Ela deve ser um dos agentes de transformação desse exílio, mas para isso deve antes ser “igreja na sociedade”, ou como se dizia das CEB’s, “povo de Deus no meio do povo”, abandonando a espiritualidade vazia de compromisso com o Deus-do-mundo, ou o mundo-de-Deus, e a visão soteriológica conversionista, encarnando a dor do exilado e propondo soluções. Ela tem que compreender como parte de sua missão a humanização do exilado, pois humaniza a si mesma quando tenta ajudar os marginalizados no processo de humanização[iii].

[i] BAENINGER, Rosana. São Paulo e suas migrações no final do século 20. São Paulo em perspectiva. v.19 n.3 São Paulo jul./set. 2005.
[ii] GONÇALVES, Alfredo J. Novos êxodos: A tradicional e nova migração nordestina em primeiro plano. A cara nova do fenômeno migratório no país. In: Revista missões. Disponível em: www.revistamissoes.org.br. Acesso em:14/02/2008.
[iii] LUCIA, José Sols. Teologia da marginalização: Os nomes de Deus. São Paulo: Paulinas, 1995.

quinta-feira, 20 de março de 2008

JARDINEIROS DE DEUS

Na narrativa bíblica da criação Deus criou um belo e perfeito jardim, com rios, peixes, pássaros, árvores... um lugar cheio de vida, mas frágil. Por fim criou o ser humano e lhe deu a responsabilidade de ser seu jardineiro, ou seja de cuidar da bela e perfeita criação (“O Senhor colocou o homem no jardim do Édem para cuidar dele e cultiva-lo” – Gn 3:15).
Deus nos deu a responsabilidade de cuidar de sua criação. Segundo o livro de Gênesis a primeira missão que Ele nos deu foi cuidar da natureza. Então faz parte de nossa tarefa, enquanto igreja, lembrar ao mundo que destruir o que Deus criou também é pecado, é um insulto à perfeição divina. Quando pedirmos perdão a Deus pelas nossas ofensas, pesamos perdão pelas muitas espécies de animais e peixes e plantas que desaparecem todos os anos da natureza, pela represa que se enche de lixo lançado pelos nossos esgotos, pelo ar que a cada dia fica mais carregado pelos gases lançados dos escapamentos dos nossos carros e das indústrias, peçamos perdão porque ofendemos a Deus. Devemos assumir nossa responsabilidade como jardineiros, como cuidadores do mundo belo e perfeito que Deus criou.
(Texto publicado no Boletim dominical da Igreja Batista Getsêmani em 24/02/08)

domingo, 16 de março de 2008

A CEIA DO SENHOR: Símbolo da comunhão cristã

Mesmo sendo muitos e tão diferentes, em Cristo, somos todosum só corpo. A Ceia do Senhor, além de ser um memorial (I Co 11:24), uma aliança com Deus (I Co 11:25), uma oportunidade de proclamação(I Co 11: 26), um momento de auto-avaliação (I Co 11:28), é símbolo da comunhão cristã: “E como há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois participamos todos desse único pão” (I Co 10:17). O próprio ato de Jesus de partir o pão e passar o cálice entre os discípulos já aponta para uma vida de partilha e amor, porque comunhão não é só viver sem desentendimentos ou divisões, mas é preocupar-se com o outro, é ajudar ao que está ao nosso redor em suas necessidades. Quando participamos da comunhão cristã devemos querer para o nosso próximo aquilo que queremos para nós mesmos, devemos nos interessar pelo seu crescimento. Portanto ao participarmos da Ceia do Senhor precisamos procurar estar bem com Deus vivendo em comunhão com o nosso irmão.
(Texto publicado no Boletim dominical da Igreja Batista Getsêmani em 27/01/08)