sexta-feira, 28 de setembro de 2007

SÓ(,) MEDITO

Estou em casa sozinho há dois dias (sozinho de gente, livros e cd’s me acompanham). Um pouco de solidão às vezes faz bem, nos permite pensar sobre coisas que quando acompanhados geralmente não pensamos.

Não costumo ver a velhice com pessimismo, como “canseira e enfado”. Mas sozinho me lembro que daqui há quarenta anos serei idoso, não sei se ainda conseguirei fazer planos, sonhar. Depois de algum tempo não estarei mais aqui. Dizem que essa pergunta surge em momentos de crise, no fim da uma vida ou após leituras de Schopenhauer: De que me importa tudo isso se daqui a algum tempo não estarei aqui? Suor de trabalho, madrugadas em leituras, dinheiro poupado para comprar casa e carro, luta contra câncer, de que me importa? Talvez caiba em questões existenciais a pergunta de Jesus: “De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua vida?”. O Qoelét também perguntava: “Como o homem vem, assim ele vai, e o que obtém de todo seu esforço em busca do vento?”.

Acho engraçado (ou será inveja?) pessoas falando sobre a profundidade da existência. A profundidade da existência não está a menos de sete palmos. Existe aquela pergunta que incomoda a todos, até àqueles que fingem ter uma resposta: A morte é o fim de tudo? Até da sensação de que os nossos esforços valem a pena? Sem metafísica desde os místicos até os mais convictos ateus se calam.

E a aposta de Pascal? A aposta de Pascal não funciona. Não existe fé por precaução. Não existe “previdência social além-túmulo”. Fé é entender que as coisas estão em ordem e fazem sentido. Algumas pessoas têm fé.

Sozinho me pergunto o que fazer e ouço Fernando Pessoa:

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Os dias passam e nós simplesmente devemos olhar com serenidade o filme da vida até o desenrolar de seus créditos finais. Não acredito que meu nome estará lá. Mas filme pela metade não tem graça.

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