sábado, 13 de outubro de 2007

O MAL SOFRIDO: OU “A VIDA É ASSIM”

Todos nós já passamos por alguma forma de sofrimento, a condição humana é a isso suscetível, seja a morte (própria ou de alguém que gostávamos), doença, fome, castigo, injustiça, punição, etc. Em determinados momentos nos questionamos acerca do mal sofrido. Por que o sofremos? Há um propósito? Qual a sua origem? Nosso questionamento é uma defesa contra a complexidade da vida, uma tentativa de negar a noção de que “a vida é assim”.
As tentativas dos autores bíblicos de atribuir o mal sofrido aos seres religiosos – Deus ou Diabo – são amostras do desejo de superá-lo. Se o bem for feito Deus afastará o mal, se o pecado (mal moral) for cometido o mal físico virá. Temos um bom exemplo disso no livro de Gênesis: a serpente foi a responsável pela queda e o ser humano sofreu de Deus as conseqüências. Outro exemplo é o livro de Jó, que mostra o sofrimento de um inocente causado pela disputa entre Deus e o Diabo.
Como já afirmamos, nosso questionamento é uma defesa contra a noção de que “a vida é assim”, não aceitamos um mundo onde a morte seja a única certeza, a doença seja um fantasma que ronda no escuro e a violência seja, muitas vezes, parte do convívio com outras pessoas. Não aceitamos essa situação e para não entrarmos em desespero justificamos o mal elaborando origens. Mesmo entendendo a artificialidade dessas origens insistimos nelas.
A origem do sofrimento, diante do que sofre, é de pequeno valor, este interessa-se mais por soluções práticas que por teorizações. Ricoeur afirma que devemos substituir a pergunta “de onde vem o mal?” por “que fazer contra o mal?”, demonstrando com isso que é impossível desvendar o grande enigma, mas é possível propor alternativas que amenizem o sofrimento. Portanto, as doutrinas da Igreja, os filósofos cristãos que formularam teodicéias e o texto bíblico devem ser lidos em outra perspectiva: com o intuito de extrair princípios de solução para o mal sofrido; devemos, ainda, fazer surgir o sentimento de promoção do bem-estar e amenização do sofrimento, através de, como propôs Ricoeur, novas respostas ao problema, ações éticas e políticas que diminuam a violência e uma espiritualidade baseada na renúncia do desejo (de imortalidade, de recompensa, de libertação pelo sofrimento, etc) e no amor a Deus apesar das circunstâncias.

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