quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

UMA TEOLOGIA DO NORDESTINO EM EXÍLIO?

Tenho pensado nos últimos tempos a presença dos retirantes nordestinos nas grandes cidades do sudeste – mais especificamente em São Paulo – como um exílio. Não tenho tido tempo para uma reflexão profunda nem para recolher material bibliográfico, mas pela minha própria (e manifesta) nordestinidade (em exílio) tenho sido desafiado teologicamente. Isso tem provocado em mim duas inquietações.
A primeira delas é sobre como ler teologicamente esse exílio, a partir de que. Aqui está mais para uma questão metodológica. Acho que não há melhor maneira de enxergar esse exílio que a partir da própria perspectiva do exilado. Talvez coubesse aqui uma antropologia teologia do retirante, dentro do conceito de mobilidade, se desloca forçadamente, não porque diretamente alguém lhe impôs (como no exílio do judeus na Babilônia, ou o exílio de centenas de brasileiros em vários lugares por causa do regime militar), mas pela imposição da miséria gerada pelas desigualdades sociais e econômicas.
A segunda é como promover resistência diante da terrível situação de exclusão e fragmentação da identidade. Me parece que uma possibilidade de resistência está na formação de espaços alternativos, onde as expressões culturas nordestinas servem de âncora diante da exclusão e da fragmentação da identidade. Esses espaços alternativos já existem e partem de iniciativas totalmente informais e despropositadas, mas com o tempo tornam-se lugares de comunhão, troca de experiências, partilha, memórias e identidade.
Espero num outro momento poder desenvolver essas questões que me instigam e inquietam. Essa reflexão, apesar de já com algumas décadas de atraso, permanece importante devido à continuação desse exílio, ainda que de outras formas e sob outras circunstâncias.

Nenhum comentário: